Hoje, enquanto orava por meus amigos, a lembrança de um texto bíblico me perturbou: “Jeremias, não ore por este povo nem faça súplicas ou pedidos em favor dele, nem interceda por ele junto a Mim, pois Eu não o ouvirei.” (Jeremias 7:16)
É claro que eu teria facilidade em procurar defeitos nos meus amigos. E eu poderia naturalmente imaginar que estas imperfeições impediriam que Deus atendesse minha intercessão por eles. (Talvez você se identifique com meu talento natural pra encontrar falhas.) Mas esta manifestação dramática do Senhor, instruindo o profeta a não orar por alguém, me incomodou por outro motivo…
Sou feliz por ter amigos muito bons e generosos. Muitos deles são religiosos, e constantemente me encorajam, me desejam coisas boas, e me lembram de algo fantástico: eles estão sempre orando por mim!
Você percebe por que o texto bíblico me fez estremecer? Será que quando meus amigos oram por mim, Deus tem vontade de dizer a eles: “Chega disso! Não orem mais por ele!”? Quando eles trazem meu nome diante do altar do Céu, pra suplicar bênçãos sobre a minha vida, será que Deus cruza os braços e diz: “Eu não os ouvirei”?
Se isso acontecesse, imagino que meus amigos bem intencionados ficariam um pouco confusos. A pergunta natural se seguiria: “Por que, Senhor?”. E então, talvez o Senhor respondesse como respondeu pra Jeremias no verso 17:
“Não vê o que estão fazendo nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém?”
A partir daí, Deus começa uma descrição triste e humilhante da idolatria a que o povo estava entregue. Uma vez tendo conhecido o amorável caráter do Criador, como eles podiam agora se dedicar à adoração de criaturas? Como, tendo recebido tanta luz, se rebelavam abertamente daquela maneira, tentando pateticamente substituir o Deus Altíssimo por seja-lá-o-que-for?
Como agravante, Aquele que lê o coração dos homens lamentava a intenção do povo: o problema não era que eles estavam sendo enganados. Eles não eram ignorantes, eles não achavam que Deus não existia, nem tinham dúvidas sobre o quanto Ele reprovava a idolatria. Eles sabiam! A argumentação divina no verso 18 é contudente e incontestável: “eles fazem isso para provocar a Minha ira!” Seus corações estavam cheios tanto de conhecimento religioso quanto de rebelião consciente e sem justificativa.
Séculos depois, Jesus condenaria com palavras duras o mesmo comportamento manifesto por alguns fariseus:
“Se vocês fossem cegos, não seriam culpados de pecado; mas agora que dizem que podem ver, a culpa de vocês permanece” (João 9:41).
O grande problema desta falsa visão desprovida de conversão, deste conhecimento sem relacionamento, desta religiosidade carente de espiritualidade, é que esta “luz” cega mais que as trevas. É interessante que Cristo não afirmou que aqueles fariseus não eram cegos; eles só diziam que podiam enxergar. Lembra daquele ditado estranho: “o pior cego é aquele que não quer ver”? Ora, todo cego quer ver – o céu, as flores, o oceano, o pôr-do-sol… Mas o ditado se refere a algo parecido com o que o Mestre tinha em mente: “o pior cego é aquele que não quer ver que é cego!”
Esta falaciosa cegueira espiritual levava o povo a pensar que seu comportamento rebelde de alguma forma provocaria a Deus, deixando-O envergonhado ou fazendo-O consumir-Se de ira. Como os índios das revistas em quadrinhos, que atiravam flechas para o alto durante um eclipse solar tentando acertar a lua pra que ela fosse embora, os trangressores voluntários atiram sua rebeldia na direção do Céu, reclamando: “Eu já entendi tudo o que Você disse, mas eu não quero Você; não quero Seus conselhos; não quero Sua presença amorável silenciosamente repreendendo minhas faltas; não quero Seu amor me transformando… Deus, eu só quero que Você vá embora!”
“Mas será que é a Mim que eles estão provocando?”, pergunta o Senhor. “Não é a si mesmos, para a sua própria vergonha?” (Jeremias 7:19).
Que eu permita que Jesus abra meus olhos para ver minha própria cegueira. Que eu não cometa o desatino de colocar qualquer coisa – nem a mim mesmo – no lugar do Único que é poderoso para salvar. E assim, quando você orar por mim, que Deus te ouça.
por Ederson Peka